Wednesday 24 September 2014

364 dias pelo mundo em 3.302 palavras*

Viajar é mudar a alma de casa. Vivo fazendo citações erradas. Fiz essa adapção da frase de Mario Quintana, em inglês, para um casal de americanos que conheci na Indonésia. Depois me lembrei que a frase correta era sobre amor. “Amar é mudar a alma de casa”. Mas como amo viajar, nem me preocupei em consertar ou dar o crédito apropriadamente.

Mudei meu corpo e alma de casa centenas de vezes nos últimos doze meses. Acabei de voltar de uma viagem de volta ao mundo. Continentes: 4, países: 16, voos, barcos, ônibus, caronas, passos...: [insira números impressionantes aqui]. Queria saber como essas pessoas que viajam conseguem ficar contando essas coisas!

Ano passado, pedi demissão de um trabalho muito legal; meu parceiro tirou um ano sabático no trabalho dele, entregamos nosso apartamento alugado, vendemos o carro e a maioria das nossas coisas e fomos viajar. Queria conhecer o mundo! Ele já conhecia bastante. Já tinha tirado um ano depois da faculdade pra conhecer o sudeste asiático (Tailândia, Camboja, Índia, Nepal, Vietnã, Malásia...), já tinha morado um ano na Austrália e eu sempre quis saber como era ser viajante, sem ter a data de volta marcada pras próximas semanas.

Concordamos que ele ficaria responsável pelo nosso roteiro e definimos algumas datas ou lugares que com certeza fariam parte do nosso itinerário. Por exemplo, queria passar o ano novo com minha irmã e a família em Sydney, ia visitar uma amiga de infância na Califórnia, seria o máximo se também conseguisse encontrar uma amiga que tinha acabado de mudar para o Peru e estaria no Brasil para a Copa do Mundo e aniversário do meu irmão em Junho. Fora isso, tudo o que viesse seria lucro!

Nós dois nos conhecemos na Ásia e adoramos tudo sobre aquele continente. As paisagens, a comida, o povo... é tudo tão exótico,  simples e misterioso. Então decidimos começar por lá. O itinerário do nosso voo de volta ao mundo foi: Londres, Singapura, Brisbane, Los Angeles, Cancun... Bogotá, Londres. Tudo que ocorreu entre esses lugares foi acontecendo organicamente, sem muito planejamento e com um bocado de aventura.

Macaco-narigudo (probocis monkey) em
Bako National Park. Bornéu, Malásia.
Fomos de Singapura (acabamos ficando na casa de uma amiga que estava morando lá) para a parte da malaia de Bornéu, onde viajamos de sul a nordeste, vimos orangutangos, macacos-narigudos, nuvens de morcegos; fizemos hiking na floresta, aprendi a mergulhar, subimos uma montanha de 4.000 metros, Monte Kinabalu, o pico mais alto dessa parte da Ásia e tomamos gosto por passar nosso tempo ao ar livre em vez de ficar em frente a um computador no escritório.

Viajamos muito pela Indonésia até chegar a lugares de difícil acesso com nomes engraçados, como as Ilhas Banda no mar de Maluco! As ilhas da Indonésia (um dos meus lugares favoritos) são extremamente espalhadas e as condições climáticas variam bastante de uma ilha para outra. Esse foi um dos fatores decisivos para a nossa escolha. Além do fato dessa parte do mundo fazer parte do triângulo de corais e abrigar uma imensa diversdade marinha, ou seja, perfeita para a prática de mergulho. Com isso em mente, fomos rumando para o leste até chegar em Papua, num paraíso chamado Raja Ampat (a imagem que você vê no Google existe e é ainda mais azul na vida real!).

Raja Ampat: Dá pra imaginar que ao vivo isso é mais lindo ainda?
Raja Ampat: Por-do-sol na ilha de Kri na pousada Yenkoranu.

Raja Ampat: Banco de areia onde fazíamos nossos intervalos na superfície!

Mas nem só de fundo do mar se morre de encatamento pela Indonésia, o país é riquíssimo culturalmente e muito diverso. Ficamos em povoados majoritariamente católicos, mulçumanos e também num lugar meio tribal, indígena talvez, onde os nativos praticam um ritual muito diferente quando alguém morre. Pode parecer estranho, mas participamos de um enterro. Uma cerimônia incrível que dura mais de três dias para o povo de Tana Toraja, em Celebes do Sul. A expressão ‘choque cultural’cai bem nessa situação. Nessa ilha se come de tudo e o mercado de domingo é uma atração para quem tem estômago forte. Vimos cobras, cachorros torrados, ratos, morcegos... todos enfileiradinhos como a gente está acostumado a ver peixe, porco e boi no supermercado. 
Conseguimos ser os únicos estrangeiros numa dessas ilhas e vimos um povo virtualmente virgem turisticamente falando. Isso foi maravilhoso!

Nossa última parada antes de voltar para um país conhecido foi as Filipinas. Outro arquipélago gigantesco. Como estávamos bem aclimatizados com as diferenças na Indonésia, ficamos um pouco surpresos com o excesso de normalidade das Filipinas. Muitos deles falam bem inglês (logo agora que já estava conseguindo fazer frases e cantar músicas em Bahasa?), comem  muita batata frita, estão bem acostumados com turistas e são uma gente muito bonita. Achei todo mundo lindo: velho, criança, adulto. Pessoas que sorriem com os olhos, sabe? Fizemos uma viagem de barco de cinco dias parando em ilhas desertas, dormindo na praia, comendo frutos do mar fresquinhos... um luxo. Mais estilo férias do que viajante, mas tentar manter esse equilíbrio foi importante pra nossa sanidade.

Viajar cansa. Exige muito de você. Pode até ser estressante. Quando as placas estão em um alfabeto diferente e você precisa ficar virando as páginas de um guia ou dicionário para conseguir se comunicar o tempo todo, quando se escolhe a comida apontando e tentando adivinhar, ao mastigar, que tipo de proteína animal se está engolindo, torcendo pra ser algo familiar, quando se chega num vilarejo no meio da noite sem ter um lugar certo para dormir... Isso sem contar as inúmeras decisões e discussões conjugais. Por algum motivo, apesar disso tudo, prefiro um cardápio alienígena a um gourmet. Não, isso não é verdade. Adoro um restaurante chiquérrimo também!

Depois desses três meses de praias, montanhas e ilhas no Sudeste Asiático paramos dois meses na Austrália para curtir um tempo em família e mais praias, montanhas e ilhas! Passamos o Natal em Stradbrooke Island e ficamos num apartamento perto do mar de onde dava para ver golfinhos passando pelo povo de caiaque, enquanto você tomava café da manhã. Nosso reveillon foi na baía de Sydney, num barco com terraço de vidro e bebida liberada! E os finais de semana seguintes foram de muito churrasco e passeios pelos parques da cidade. Muitos parques e muitas praias, perfeitos para momentos em família.

De lá, continuamos nosso turismo afetivo e fomos visitar minha amiga de infância e família em Los Angeles. Pegamos as dicas, alugamos um carro e rodamos mais de 3.000 milhas em duas semanas pelas autoestradas da Califórnia, de Nevada e do Arizona. Vivo me surpreendendo. Confesso que fiquei surpresa com o quanto gostei de passear pelos Estados Unidos. Talvez por todos os clichês negativos que cresci ouvindo, pela natureza capitalista que contrariava meus ideais juvenis e pela fama de ter comida ruim.

Subimos a Highway 1 de LA para São Francisco parando em Morro Bay e Monterey. Amamos o Big Sur e os leões marinhos tomando banho de sol. Todas as curvas daquela estrada cinematográfica e a cachoeira que dá pro mar. O céu com cores belíssimas durante o pôr-do-sol, as paisagens dramáticas e aquele sentimento de familiaridade com o cenário. Se você assiste a filmes ou televisão, é impossível não sentir isso nos Estados Unidos de Hollywood. Fomos para Las Vegas, Grand Canyon, Sedona, para o parque das sequóias gigantes, não deu para ir no Yosemite dessa vez, mas sentimos a presença do Zé Colméia mesmo assim. Comemos super bem e amei a pipoca levemente doce, perfeitamente salgada que comi em Venice Beach. Tive a oportunidade de curtir um show de rap em Hollywood com a minha amiga e mal posso esperar para visitá-la de novo.

Com alguns quilos a mais, pegamos nosso penúltimo voo original para Cancun. Nosso plano naquele momento (tivemos muitos planos em vários estágios da viagem) era descer toda a América Central e do Sul até chegar ao Brasil para a Copa. Já sabíamos que esse plano era improvável de acontecer já que nossos amigos viajantes nos disseram que o ideal era contar pelo menos um mês por cada país da América do Sul. Precisávamos de pelo menos mais um ano para viajar no nosso ritmo ideal.

Infelizmente teríamos que tomar decisões difíceis e não podíamos contar com conselhos de nossos amigos, porque ninguém estava interessado nos nossos problemas: Atravessar para a costa oeste do México ou ficar só pela riviera maia? Equador ou Colômbia? Ir de avião do Panamá para a Colômbia ou de barco? Pegar ônibus para o Peru ou voar direto para Cusco? Ninguém nos levava a sério. Eram uma angústia danada esses dilemas. Mentira, é brincadeira. Sei que os nossos desafios eram problemas maravilhosos de se ter e que qualquer caminho nos levaria ao Brasil, onde teríamos mais família, mais amor, mais conforto e geladeira cheia. Que benção ter tudo, inclusive saúde para fazer uma viagem dessas, e poder pausar a corrida pelo sucesso intelectual e material para apreciar as riquezas naturais desse mundo.

Pronto, pode acordar de novo. Resolvemos deixar a outra costa do México para ser explorada numa próxima oportunidade e descer a rivieira maia de ônibus, que acabou sendo muito rápido. Não via a hora de sair daquele litoral super turístico extremamente explorado pelos americanos, onde os preços eram tão altos quantos os hotéis e a cultura local se limitava às barraquinhas de artesanato. Conhecemos algumas ruínas maias, mergulhamos no mar do Caribe e partimos para Belize.

Já mais acostumada com a ideia de não encontrar praias virgens pela América Central, relaxei e curti. Conhecemos uma ilha do mar do Caribe de cada país que passamos (todos menos El Salvador, por motivos logísticos). Em Belize, fomos para Caye Caulker. Fizemos um passeio de catamarã beirando a barreira de corais e parando em ilhas exclusivas, três dias e duas noites de muito reggae, ceviche e rum. O fundo do mar, apesar de ter excelente visibilidade, não se compara à diversidade da Indonésia. Excesso de gente pedindo peixinho frito nas praias e restaurantes não colabora com a qualidade do mergulho.

Entramos na Guatemala num barquinho popopó com ondas grandes, tão grandes que o durante o trajeto, pedimos os coletes salva-vidas e a proteção de Iemanjá! Atravessando o país do Atlântico ao Pacífico. Fomos a Tikal, uma das mais impressionantes ruínas maias, no meio da floresta; tomamos banho numa cachoeira de água quente; fizemos dois dias de caminhada nas montanhas no interior, onde dormimos na casa de uma família indígena; fomos a Semuc Champey e descemos o rio em câmaras de ar de pneu de caminhão, visitamos Antigua e assistimos lindos pôr-do-sol num horizonte cheio de vulcões... Fizemos amigos e nos divertimos muito na Guatemala. A variedade de paisagens, culturas e estilo de turismo nos deixou com um gostinho de quero mais. Quero voltar para fazer trekkings mais longos e conhecer os vulcões, explorando mais o interior e as áreas rurais, onde mais gostamos de ficar.

Depois de passar a noite no ônibus, chegamos nas ruínas de Copán em Honduras. Tivemos sorte em Tikal, pois não estava muito cheio de turistas e o sítio arqueológico é muito grande. Em Copán, a tranquilidade do lugar nos surpreendeu. Pouquíssimos turistas, ruínas tomadas por árvores imensas e araras voando de uma pirâmide para outra. Nesse ponto da viagem, já estávamos bem escolados em ruínas maias, mas a visita a esse sítio teve um lugar especial na nossa memória.

Após muitas zonas rurais, montanhas e florestas, já estávamos sentindo falta da costa caribenha, então atravessamos Honduras de ônibus e pegamos o barco para Roatán, num quase interminável dia de viagem. A nossa peregrinação valeu a pena, ficamos uma semana em três pousadas diferentes (não fizemos reserva e era véspera da Semana Santa, época mais badalada nas Islas de La Bahía). Fizemos muitos mergulhos e bati dois recordes. Um de profundidade, cheguei até 46 metros e o outro de tartarugas por mergulho! Parei de contar depois de encontrar a 16ª tartaruga nos primeiros 25 minutos do mergulho. Por coincidência, o nome do dive site era Turtle Crossing. Fizemos amizade com os moradores da ilha e deu peninha de ir embora...

Vou pular a parte que ficamos de molho em Tegulcigalpa esperando o sistema de transporte voltar ao normal depois do feriado de Páscoa e vou adiantar que adoramos a Nicarágua! Chegamos em Léon e fizemos um trekking de dois dias e uma noite em três vulcões. Acampamos no topo de um vulcão com vista para o Lago Manágua e o lago da cratera do vulcão que alcançaríamos a pé no dia seguinte. Também vou pular a parte que quase morri de desidratação, porque essa história é longa e merece um texto próprio. O importante é que sobrevivi e tenho a camiseta para provar!

Depois da aventura nos vulcões, precisei de outra temporada em uma ilha deserta (está entendendo porque nossos amigos não têm a mínima paciência pros nossos problemas?). Escolhemos a menor das Ilhas do Milho, chamada Pequena Ilha do Milho. Nesse paraíso, rehidratei meu corpo cansado, li quatro romances esquecíveis, dei várias voltas na ilha, mergulhei só para constatar que não valia muito a pena e continuei aproveitando a superfície no melhor estilo baiano: na rede, com reggae e água de coco. Já recuperada, fomos explorar mais vulcões na ilha de Ometepe, no meio do Lago Nicarágua. Ficamos no sítio de um espanhol socialista figura e curtimos a praia de água doce. Gostaria de ter ficado mais de uma semana por lá.

Como o tema Copa do Mundo já estava começando a aparecer com mais frequência, sentimos que precisávamos acelerar nosso passo senão não conseguiríamos ir para Machu Picchu antes da nossa data ideal de chegada no Brasil. Problema sério! Então atravessamos a Costa Rica (bem desenvolvida turisticamente e colônia de férias dos americanos) em duas longas viagens de ônibus e passamos um leve aperto na fronteira do Panamá.

Só para variar, dessa vez escolhemos ir mergulhar numa ilha da costa do Pacífico. Foi uma escolha perfeita! Depois de Raja Ampat, Coiba foi o lugar mais impressionante que já mergulhei. É a maior ilha da América Central, tem 75% do território coberto por floresta primária e é cercada por um dos maiores recifes de coral do mundo na costa do Pacífico americano, de acordo com a Wikipédia. De acordo com a minha experiência, é o lugar onde mais vi tubarões por mergulho, onde vi o maior cavalo-marinho, onde vi um crocrodilo na praia e onde vi nuvens de diferentes espécies de peixe ao redor de mim. Um lugar espetacular!

Na Cidade do Panamá, visitamos o famoso Canal e organizamos nossa viagem para a Colômbia num cruzeiro de 5 dias a bordo do catamarã African Queen. Essa viagem de barco também merece um artigo a parte. Éramos 14 pessoas contando com o capitão italiano e a namorada colombiana, comendo peixe fresco, conhecendo o arquipélago de San Blás, o povo Kuna e cruzando 15 horas direto em mar aberto sem pausa para nausea.

Chegamos na América do Sul em Cartagena de Índias. A Colômbia foi um dos países altamente recomendados por outros viajantes e amigos colombianos, claro. Eles adoram falar da Colômbia, sentem o maior orgulho das belezas e das pessoas do país, tipo o brasileiro costumava ser. No final, concordei que o café colombiano é mais saboroso que o brasileiro e o país superou todas as nossas expectativas. Amei todas as interações interpessoais que tive lá, achei uma delícia tudo o que comi e adorei todos os lugares que fomos: Cartagena, Parque Tayrona, Minca, Medellin, Guatape, Salento, Cali, Letícia, Bogotá... merecem outro capítulo separado.

Pegamos um avião para o Peru, onde ficamos na casa de outra amiga de escola. Que privilégio poder unir a vida de mochileira com visita a amigos de longa data. Fomos super bem recebidos e ciceroneados em Lima, comemos muito bem, fomos a show de rock nacional, visitamos galeria de arte contemporânea e pegamos dicas para nossos próximos destinos no país.
Para nos preparar para os cinco dias de trekking até Machu Picchu, decidimos primeiro ir para Arequipa, conhecer o Colca Canyon e seus condores. A altitude não nos causou problemas. Tivemos dias lindos e bem fresquinhos nessa cidade antiga rodeada de vulcões com picos nevados. Numa viagem de ônibus durante toda a noite (melhor hora para viajar, pois economiza com acomodação), partimos para Cusco.

Demos muita sorte de chegar uma semana antes do ano novo Inca, quando as festividades na cidade eram mesmo para seus moradores e não para a enxurrada de turistas que invade a cidade diariamente. Vimos uma competição de dança na praça central com estudantes vestidos de trajes tradicionais representando todas as culturas locais.

Fizemos a trilha de Salkantay para Machu Picchu. Cinco dias, 74 km de caminhada num vale maravilhoso, literalmente de tirar o fôlego. Demos sorte mais uma vez e conhecemos pessoas interessantes nessa jornada. Alguns que entraram em nossas vidas para não sair nunca mais. Nem preciso dizer que foi mais incrível do que eu pensava. Estava bem preparada fisicamente, já tinha bastante experiência com altitude, montanhas, vulcões etc. e não senti dor muscular. Machu Picchu, em si, também não desapontou.

Seguimos para o Lago Titicaca e ficamos na Ilha do Sol no lado da Bolívia. Lá, eu vi uma praia aparentemente tropical com picos nevados no horizonte. Como se o mundo tivesse de cabeça pra baixo! Pegamos um ônibus para La Paz e seguimos todas as recomendações de segurança. A fama da cidade, que não é a capital da Bolívia, não é a das melhores. E tudo correu bem. Nosso voo com destino a São Paulo sairia no dia seguinte, então curtimos os últimos momentos da vida de mochileiros num hostel badalado.

No Brasil, além da esperada Copa do Mundo, viajamos com minha família (quase não nos desgrudamos!) e vimos muitos amigos queridos. A segunda melhor coisa do mundo depois de viajar é viajar com pessoas amadas. Visitamos o Museu dos Colibris em Santa Teresa, no interior do Espírito Santo, constatamos que as montanhas capixabas não deixam a desejar no quesito mar de morros para nenhuma cadeia de montanha que vimos antes (ok, com exceção dos Andes, talvez); dançamos forró no Festival Internacional de Forró de Itaúnas no extremo norte do ES; fomos pegar chuva na Bahia; vimos o Fluminense jogar no Maracanã; conhecemos a Ilha Grande e aceitamos o convite de amigos da trilha de Salkantay para conhecer Cuiabá, a Chapada dos Guimarães e o Pantanal. Quase chorei quando vi um tucano-açu.

O Pantanal é extraordinário. Muito fácil de ver vida selvagem. Joga a vara no rio, conta até três e pega uma piranha. Fácil assim. Fomos também para Manaus e fizemos passeios na Amazônia, tanto a brasileira quanto a colombiana. No Brasil, me senti meio gringa. Fizemos um tour para ver tudo em um dia: boto rosa, encontro das águas, vitórias-régias, bicho preguiça, cobra, aldeia indígena, comida típica... Na Colômbia, subimos o rio e ficamos numa pousada numa comunidade indígena em San Martin de Amacayacu. Heike, holandesa, e seu parceiro Jose, da tribo Tikuna, são amor personificado. Eles nos proporcionaram mais do que eu sonhava nessa estadia. Caminhamos pela floresta e vimos a beleza pura da Amazônia. Queria passar um ano inteiro por aqui.

Assim foi nosso ano sabático: muitos sonhos realizados, expectativas superadas, muitos lugares entrando para a lista de onde queremos voltar e de onde ainda vamos conhecer. A lista é interminável. É impossível não voltar pensando nos próximos roteiros, nas próximas férias, no próximo ano sabático, nas viagens depois da aposentadoria...

Acabei lembrando de mais coisas... nem falei das plantações de arroz nas Filipinas, nos mergulhos nos naugráfios de Coron, das tartarugas de Pandan Island, das partes boas do México, do menor avião de todos na Indonésia, das chuvas, dos contratempos, do ônibus com serviço de bordo de livros para emprestar, nossas ideias milionárias, histórias das pessoas que conhecemos, da melhoria impressionante do meu Portunhol.


Giulyanna é capixaba, jornalista, tradutora, fotógrafa, modelo aposentada e já morou no Sri Lanka, País de Gales e Inglaterra. Peter é inglês e já morou no Sri Lanka e Austrália. Esse foi seu quarto gap year. Eles viajaram entre 15 de setembro de 2013 e 14 de setembro de 2014.

*Comecei escrever esse texto a pedido de Gisela para ser publicado na revista dela. Acabei me empolgando e escrevendo demais. Vou aproveitar e escrever os outros que fiquei devendo.

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