Viajar é
mudar a alma de casa. Vivo fazendo citações erradas. Fiz essa adapção da frase
de Mario Quintana, em inglês, para um casal de americanos que conheci na
Indonésia. Depois me lembrei que a frase correta era sobre amor. “Amar é mudar
a alma de casa”. Mas como amo viajar, nem me preocupei em consertar ou dar o
crédito apropriadamente.
Mudei meu
corpo e alma de casa centenas de vezes nos últimos doze meses. Acabei de voltar
de uma viagem de volta ao mundo. Continentes: 4, países: 16, voos, barcos,
ônibus, caronas, passos...: [insira números impressionantes aqui]. Queria saber
como essas pessoas que viajam conseguem ficar contando essas coisas!
Ano
passado, pedi demissão de um trabalho muito legal; meu parceiro tirou um ano sabático
no trabalho dele, entregamos nosso apartamento alugado, vendemos o carro e a
maioria das nossas coisas e fomos viajar. Queria conhecer o mundo! Ele já
conhecia bastante. Já tinha tirado um ano depois da faculdade pra conhecer o
sudeste asiático (Tailândia, Camboja, Índia, Nepal, Vietnã, Malásia...), já
tinha morado um ano na Austrália e eu sempre quis saber como era ser viajante,
sem ter a data de volta marcada pras próximas semanas.
Concordamos
que ele ficaria responsável pelo nosso roteiro e definimos algumas datas ou
lugares que com certeza fariam parte do nosso itinerário. Por exemplo, queria
passar o ano novo com minha irmã e a família em Sydney, ia visitar uma amiga de
infância na Califórnia, seria o máximo se também conseguisse encontrar uma amiga
que tinha acabado de mudar para o Peru e estaria no Brasil para a Copa do Mundo
e aniversário do meu irmão em Junho. Fora isso, tudo o que viesse seria lucro!
Nós dois
nos conhecemos na Ásia e adoramos tudo sobre aquele continente. As paisagens, a
comida, o povo... é tudo tão exótico,
simples e misterioso. Então decidimos começar por lá. O itinerário do
nosso voo de volta ao mundo foi: Londres, Singapura, Brisbane, Los Angeles,
Cancun... Bogotá, Londres. Tudo que ocorreu entre esses lugares foi acontecendo
organicamente, sem muito planejamento e com um bocado de aventura.
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Macaco-narigudo (probocis monkey) em Bako National Park. Bornéu, Malásia. |
Fomos de
Singapura (acabamos ficando na casa de uma amiga que estava morando lá) para a
parte da malaia de Bornéu, onde viajamos de sul a nordeste, vimos orangutangos,
macacos-narigudos, nuvens de morcegos; fizemos hiking na floresta, aprendi a
mergulhar, subimos uma montanha de 4.000 metros, Monte Kinabalu, o pico mais
alto dessa parte da Ásia e tomamos gosto por passar nosso tempo ao ar livre em
vez de ficar em frente a um computador no escritório.
Viajamos
muito pela Indonésia até chegar a lugares de difícil acesso com nomes
engraçados, como as Ilhas Banda no mar de Maluco! As ilhas da Indonésia (um dos
meus lugares favoritos) são extremamente espalhadas e as condições climáticas
variam bastante de uma ilha para outra. Esse foi um dos fatores decisivos para
a nossa escolha. Além do fato dessa parte do mundo fazer parte do triângulo de
corais e abrigar uma imensa diversdade marinha, ou seja, perfeita para a
prática de mergulho. Com isso em mente, fomos rumando para o leste até chegar
em Papua, num paraíso chamado Raja Ampat (a imagem que você vê no Google existe
e é ainda mais azul na vida real!).
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Raja Ampat: Dá pra imaginar que ao vivo isso é mais lindo ainda? |
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Raja Ampat: Por-do-sol na ilha de Kri na pousada Yenkoranu. |
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Raja Ampat: Banco de areia onde fazíamos nossos intervalos na superfície! |
Mas nem só
de fundo do mar se morre de encatamento pela Indonésia, o país é riquíssimo
culturalmente e muito diverso. Ficamos em povoados majoritariamente católicos,
mulçumanos e também num lugar meio tribal, indígena talvez, onde os nativos
praticam um ritual muito diferente quando alguém morre. Pode parecer estranho,
mas participamos de um enterro. Uma cerimônia incrível que dura mais de três
dias para o povo de Tana Toraja, em Celebes do Sul. A expressão ‘choque
cultural’cai bem nessa situação. Nessa ilha se come de tudo e o mercado de
domingo é uma atração para quem tem estômago forte. Vimos cobras, cachorros
torrados, ratos, morcegos... todos enfileiradinhos como a gente está acostumado
a ver peixe, porco e boi no supermercado.
Conseguimos ser os únicos
estrangeiros numa dessas ilhas e vimos um povo virtualmente virgem turisticamente
falando. Isso foi maravilhoso!
Nossa
última parada antes de voltar para um país conhecido foi as Filipinas. Outro arquipélago gigantesco. Como estávamos bem
aclimatizados com as diferenças na Indonésia, ficamos um pouco surpresos com o
excesso de normalidade das Filipinas. Muitos deles falam bem inglês (logo agora
que já estava conseguindo fazer frases e cantar músicas em Bahasa?), comem muita batata frita, estão bem acostumados com
turistas e são uma gente muito bonita. Achei todo mundo lindo: velho, criança,
adulto. Pessoas que sorriem com os olhos, sabe? Fizemos uma viagem de barco de
cinco dias parando em ilhas desertas, dormindo na praia, comendo frutos do mar
fresquinhos... um luxo. Mais estilo férias do que viajante, mas tentar manter esse
equilíbrio foi importante pra nossa sanidade.
Viajar
cansa. Exige muito de você. Pode até ser estressante. Quando as placas estão em
um alfabeto diferente e você precisa ficar virando as páginas de um guia ou
dicionário para conseguir se comunicar o tempo todo, quando se escolhe a comida
apontando e tentando adivinhar, ao mastigar, que tipo de proteína animal se
está engolindo, torcendo pra ser algo familiar, quando se chega num vilarejo no
meio da noite sem ter um lugar certo para dormir... Isso sem contar as inúmeras
decisões e discussões conjugais. Por algum motivo, apesar disso tudo, prefiro
um cardápio alienígena a um gourmet. Não, isso não é verdade. Adoro um
restaurante chiquérrimo também!
Depois
desses três meses de praias, montanhas e ilhas no Sudeste Asiático paramos dois
meses na Austrália para curtir um tempo em família e mais praias, montanhas e
ilhas! Passamos o Natal em Stradbrooke Island e ficamos num apartamento perto
do mar de onde dava para ver golfinhos passando pelo povo de caiaque, enquanto
você tomava café da manhã. Nosso reveillon foi na baía de Sydney, num barco com
terraço de vidro e bebida liberada! E os finais de semana seguintes foram de
muito churrasco e passeios pelos parques da cidade. Muitos parques e muitas
praias, perfeitos para momentos em família.
De lá,
continuamos nosso turismo afetivo e fomos visitar minha amiga de infância e
família em Los Angeles. Pegamos as dicas, alugamos um carro e rodamos mais de
3.000 milhas em duas semanas pelas autoestradas da Califórnia, de Nevada e do Arizona.
Vivo me surpreendendo. Confesso que fiquei surpresa com o quanto gostei de
passear pelos Estados Unidos. Talvez por todos os clichês negativos que cresci
ouvindo, pela natureza capitalista que contrariava meus ideais juvenis e pela
fama de ter comida ruim.
Subimos a
Highway 1 de LA para São Francisco parando em Morro Bay e Monterey. Amamos o
Big Sur e os leões marinhos tomando banho de sol. Todas as curvas daquela
estrada cinematográfica e a cachoeira que dá pro mar. O céu com cores
belíssimas durante o pôr-do-sol, as paisagens dramáticas e aquele sentimento de
familiaridade com o cenário. Se você assiste a filmes ou televisão, é
impossível não sentir isso nos Estados Unidos de Hollywood. Fomos para Las
Vegas, Grand Canyon, Sedona, para o parque das sequóias gigantes, não deu para
ir no Yosemite dessa vez, mas sentimos a presença do Zé Colméia mesmo assim.
Comemos super bem e amei a pipoca levemente doce, perfeitamente salgada que
comi em Venice Beach. Tive a oportunidade de curtir um show de rap em Hollywood
com a minha amiga e mal posso esperar para visitá-la de novo.
Com alguns
quilos a mais, pegamos nosso penúltimo voo original para Cancun. Nosso plano
naquele momento (tivemos muitos planos em vários estágios da viagem) era descer
toda a América Central e do Sul até chegar ao Brasil para a Copa. Já sabíamos
que esse plano era improvável de acontecer já que nossos amigos viajantes nos
disseram que o ideal era contar pelo menos um mês por cada país da América do
Sul. Precisávamos de pelo menos mais um ano para viajar no nosso ritmo ideal.
Infelizmente
teríamos que tomar decisões difíceis e não podíamos contar com conselhos de
nossos amigos, porque ninguém estava interessado nos nossos problemas:
Atravessar para a costa oeste do México ou ficar só pela riviera maia? Equador
ou Colômbia? Ir de avião do Panamá para a Colômbia ou de barco? Pegar ônibus
para o Peru ou voar direto para Cusco? Ninguém nos levava a sério. Eram uma
angústia danada esses dilemas. Mentira, é brincadeira. Sei que os nossos
desafios eram problemas maravilhosos de se ter e que qualquer caminho nos
levaria ao Brasil, onde teríamos mais família, mais amor, mais conforto e
geladeira cheia. Que benção ter tudo, inclusive saúde para fazer uma viagem
dessas, e poder pausar a corrida pelo sucesso intelectual e material para
apreciar as riquezas naturais desse mundo.
Pronto,
pode acordar de novo. Resolvemos deixar a outra costa do México para ser
explorada numa próxima oportunidade e descer a rivieira maia de ônibus, que acabou
sendo muito rápido. Não via a hora de sair daquele litoral super turístico
extremamente explorado pelos americanos, onde os preços eram tão altos quantos
os hotéis e a cultura local se limitava às barraquinhas de artesanato.
Conhecemos algumas ruínas maias, mergulhamos no mar do Caribe e partimos para
Belize.
Já mais
acostumada com a ideia de não encontrar praias virgens pela América Central,
relaxei e curti. Conhecemos uma ilha do mar do Caribe de cada país que passamos
(todos menos El Salvador, por motivos logísticos). Em Belize, fomos para Caye
Caulker. Fizemos um passeio de catamarã beirando a barreira de corais e parando
em ilhas exclusivas, três dias e duas noites de muito reggae, ceviche e rum. O
fundo do mar, apesar de ter excelente visibilidade, não se compara à
diversidade da Indonésia. Excesso de gente pedindo peixinho frito nas praias e
restaurantes não colabora com a qualidade do mergulho.
Entramos na
Guatemala num barquinho popopó com ondas grandes, tão grandes que o durante o
trajeto, pedimos os coletes salva-vidas e a proteção de Iemanjá! Atravessando o
país do Atlântico ao Pacífico. Fomos a Tikal, uma das mais impressionantes
ruínas maias, no meio da floresta; tomamos banho numa cachoeira de água quente;
fizemos dois dias de caminhada nas montanhas no interior, onde dormimos na casa
de uma família indígena; fomos a Semuc Champey e descemos o rio em câmaras de
ar de pneu de caminhão, visitamos Antigua e assistimos lindos pôr-do-sol num
horizonte cheio de vulcões... Fizemos amigos e nos divertimos muito na
Guatemala. A variedade de paisagens, culturas e estilo de turismo nos deixou
com um gostinho de quero mais. Quero voltar para fazer trekkings mais longos e
conhecer os vulcões, explorando mais o interior e as áreas rurais, onde mais
gostamos de ficar.
Depois de
passar a noite no ônibus, chegamos nas ruínas de Copán em Honduras. Tivemos
sorte em Tikal, pois não estava muito cheio de turistas e o sítio arqueológico
é muito grande. Em Copán, a tranquilidade do lugar nos surpreendeu. Pouquíssimos
turistas, ruínas tomadas por árvores imensas e araras voando de uma pirâmide
para outra. Nesse ponto da viagem, já estávamos bem escolados em ruínas maias,
mas a visita a esse sítio teve um lugar especial na nossa memória.
Após muitas
zonas rurais, montanhas e florestas, já estávamos sentindo falta da costa
caribenha, então atravessamos Honduras de ônibus e pegamos o barco para Roatán,
num quase interminável dia de viagem. A nossa peregrinação valeu a pena,
ficamos uma semana em três pousadas diferentes (não fizemos reserva e era
véspera da Semana Santa, época mais badalada nas Islas de La Bahía). Fizemos
muitos mergulhos e bati dois recordes. Um de profundidade, cheguei até 46
metros e o outro de tartarugas por mergulho! Parei de contar depois de encontrar
a 16ª tartaruga nos primeiros 25 minutos do mergulho. Por coincidência, o nome
do dive site era Turtle Crossing. Fizemos amizade com os moradores da ilha e deu
peninha de ir embora...
Vou pular a
parte que ficamos de molho em Tegulcigalpa esperando o sistema de transporte
voltar ao normal depois do feriado de Páscoa e vou adiantar que adoramos a
Nicarágua! Chegamos em Léon e fizemos um trekking de dois dias e uma noite em
três vulcões. Acampamos no topo de um vulcão com vista para o Lago Manágua e o lago
da cratera do vulcão que alcançaríamos a pé no dia seguinte. Também vou pular a
parte que quase morri de desidratação, porque essa história é longa e merece um
texto próprio. O importante é que sobrevivi e tenho a camiseta para provar!
Depois da
aventura nos vulcões, precisei de outra temporada em uma ilha deserta (está
entendendo porque nossos amigos não têm a mínima paciência pros nossos
problemas?). Escolhemos a menor das Ilhas do Milho, chamada Pequena Ilha do
Milho. Nesse paraíso, rehidratei meu corpo cansado, li quatro romances
esquecíveis, dei várias voltas na ilha, mergulhei só para constatar que não
valia muito a pena e continuei aproveitando a superfície no melhor estilo
baiano: na rede, com reggae e água de coco. Já recuperada, fomos explorar mais
vulcões na ilha de Ometepe, no meio do Lago Nicarágua. Ficamos no sítio de um
espanhol socialista figura e curtimos a praia de água doce. Gostaria de ter
ficado mais de uma semana por lá.
Como o tema
Copa do Mundo já estava começando a aparecer com mais frequência, sentimos que
precisávamos acelerar nosso passo senão não conseguiríamos ir para Machu Picchu
antes da nossa data ideal de chegada no Brasil. Problema sério! Então
atravessamos a Costa Rica (bem desenvolvida turisticamente e colônia de férias
dos americanos) em duas longas viagens de ônibus e passamos um leve aperto na
fronteira do Panamá.
Só para
variar, dessa vez escolhemos ir mergulhar numa ilha da costa do Pacífico. Foi
uma escolha perfeita! Depois de Raja Ampat, Coiba foi o lugar mais impressionante
que já mergulhei. É a maior ilha da América Central, tem 75% do território
coberto por floresta primária e é cercada por um dos maiores recifes de coral
do mundo na costa do Pacífico americano, de acordo com a Wikipédia. De acordo
com a minha experiência, é o lugar onde mais vi tubarões por mergulho, onde vi
o maior cavalo-marinho, onde vi um crocrodilo na praia e onde vi nuvens de
diferentes espécies de peixe ao redor de mim. Um lugar espetacular!
Na Cidade
do Panamá, visitamos o famoso Canal e organizamos nossa viagem para a Colômbia
num cruzeiro de 5 dias a bordo do catamarã African Queen. Essa viagem de barco
também merece um artigo a parte. Éramos 14 pessoas contando com o capitão
italiano e a namorada colombiana, comendo peixe fresco, conhecendo o
arquipélago de San Blás, o povo Kuna e cruzando 15 horas direto em mar aberto
sem pausa para nausea.
Chegamos na
América do Sul em Cartagena de Índias. A Colômbia foi um dos países altamente
recomendados por outros viajantes e amigos colombianos, claro. Eles adoram
falar da Colômbia, sentem o maior orgulho das belezas e das pessoas do país,
tipo o brasileiro costumava ser. No final, concordei que o café colombiano é
mais saboroso que o brasileiro e o país superou todas as nossas expectativas.
Amei todas as interações interpessoais que tive lá, achei uma delícia tudo o
que comi e adorei todos os lugares que fomos: Cartagena, Parque Tayrona, Minca,
Medellin, Guatape, Salento, Cali, Letícia, Bogotá... merecem outro capítulo
separado.
Pegamos um
avião para o Peru, onde ficamos na casa de outra amiga de escola. Que privilégio
poder unir a vida de mochileira com visita a amigos de longa data. Fomos super
bem recebidos e ciceroneados em Lima, comemos muito bem, fomos a show de rock
nacional, visitamos galeria de arte contemporânea e pegamos dicas para nossos
próximos destinos no país.
Para nos
preparar para os cinco dias de trekking até Machu Picchu, decidimos primeiro ir
para Arequipa, conhecer o Colca Canyon e seus condores. A altitude não nos
causou problemas. Tivemos dias lindos e bem fresquinhos nessa cidade antiga
rodeada de vulcões com picos nevados. Numa viagem de ônibus durante toda a
noite (melhor hora para viajar, pois economiza com acomodação), partimos para
Cusco.
Demos muita
sorte de chegar uma semana antes do ano novo Inca, quando as festividades na
cidade eram mesmo para seus moradores e não para a enxurrada de turistas que
invade a cidade diariamente. Vimos uma competição de dança na praça central com
estudantes vestidos de trajes tradicionais representando todas as culturas
locais.
Fizemos a
trilha de Salkantay para Machu Picchu. Cinco dias, 74 km de caminhada num vale
maravilhoso, literalmente de tirar o fôlego. Demos sorte mais uma vez e
conhecemos pessoas interessantes nessa jornada. Alguns que entraram em nossas
vidas para não sair nunca mais. Nem preciso dizer que foi mais incrível do que
eu pensava. Estava bem preparada fisicamente, já tinha bastante experiência com
altitude, montanhas, vulcões etc. e não senti dor muscular. Machu Picchu, em
si, também não desapontou.
Seguimos
para o Lago Titicaca e ficamos na Ilha do Sol no lado da Bolívia. Lá, eu vi uma
praia aparentemente tropical com picos nevados no horizonte. Como se o mundo
tivesse de cabeça pra baixo! Pegamos um ônibus para La Paz e seguimos todas as
recomendações de segurança. A fama da cidade, que não é a capital da Bolívia,
não é a das melhores. E tudo correu bem. Nosso voo com destino a São Paulo
sairia no dia seguinte, então curtimos os últimos momentos da vida de
mochileiros num hostel badalado.
No Brasil,
além da esperada Copa do Mundo, viajamos com minha família (quase não nos
desgrudamos!) e vimos muitos amigos queridos. A segunda melhor coisa do mundo
depois de viajar é viajar com pessoas amadas. Visitamos o Museu dos Colibris em
Santa Teresa, no interior do Espírito Santo, constatamos que as montanhas
capixabas não deixam a desejar no quesito mar de morros para nenhuma cadeia de
montanha que vimos antes (ok, com exceção dos Andes, talvez); dançamos forró no
Festival Internacional de Forró de Itaúnas no extremo norte do ES; fomos pegar
chuva na Bahia; vimos o Fluminense jogar no Maracanã; conhecemos a Ilha Grande
e aceitamos o convite de amigos da trilha de Salkantay para conhecer Cuiabá, a
Chapada dos Guimarães e o Pantanal. Quase chorei quando vi um tucano-açu.
O Pantanal
é extraordinário. Muito fácil de ver vida selvagem. Joga a vara no rio, conta
até três e pega uma piranha. Fácil assim. Fomos também para Manaus e fizemos
passeios na Amazônia, tanto a brasileira quanto a colombiana. No Brasil, me
senti meio gringa. Fizemos um tour para ver tudo em um dia: boto rosa, encontro
das águas, vitórias-régias, bicho preguiça, cobra, aldeia indígena, comida
típica... Na Colômbia, subimos o rio e ficamos numa pousada numa comunidade indígena
em San Martin de Amacayacu. Heike, holandesa, e seu parceiro Jose, da tribo
Tikuna, são amor personificado. Eles nos proporcionaram mais do que eu sonhava
nessa estadia. Caminhamos pela floresta e vimos a beleza pura da Amazônia.
Queria passar um ano inteiro por aqui.
Assim foi
nosso ano sabático: muitos sonhos realizados, expectativas superadas, muitos
lugares entrando para a lista de onde queremos voltar e de onde ainda vamos
conhecer. A lista é interminável. É impossível não voltar pensando nos próximos
roteiros, nas próximas férias, no próximo ano sabático, nas viagens depois da
aposentadoria...
Acabei
lembrando de mais coisas... nem falei das plantações de arroz nas Filipinas,
nos mergulhos nos naugráfios de Coron, das tartarugas de Pandan Island, das
partes boas do México, do menor avião de todos na Indonésia, das chuvas, dos
contratempos, do ônibus com serviço de bordo de livros para emprestar, nossas
ideias milionárias, histórias das pessoas que conhecemos, da melhoria
impressionante do meu Portunhol.
Giulyanna é capixaba, jornalista, tradutora, fotógrafa, modelo
aposentada e já morou no Sri Lanka, País de Gales e Inglaterra. Peter é inglês e já morou no Sri Lanka e Austrália. Esse foi seu quarto gap year. Eles viajaram entre 15
de setembro de 2013 e 14 de setembro de 2014.
*Comecei escrever esse texto a pedido de Gisela para ser publicado na revista dela. Acabei me empolgando e escrevendo demais. Vou aproveitar e escrever os outros que fiquei devendo.